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Sistemas de Imagens Médicas: Um Guia Introdutório

  • Foto do escritor: Elo e-Health
    Elo e-Health
  • 25 de jul.
  • 18 min de leitura
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Este resumo detalha os principais temas, ideias e fatos importantes sobre sistemas de imagens médicas, baseando-se nos excertos fornecidos de "Medical Imaging Systems" por Andreas Maier et al. O foco é fornecer uma introdução abrangente às diversas modalidades e aos princípios subjacentes.


Visão Geral e Fundamentos de Sistemas de Imagens Médicas

O design e a fabricação de dispositivos médicos modernos exigem conhecimento de várias disciplinas, incluindo física, ciência dos materiais e ciência da computação. O livro "Medical Imaging Systems – An Introductory Guide" visa ser uma introdução completa e abrangente a este campo, adequado para estudantes de graduação em estágio inicial e aqueles com conhecimentos de matemática fundamental.

Um conceito didático notável do livro é a inversão da ordem histórica de introdução de certas modalidades. Por exemplo, a Ressonância Magnética (RM) é apresentada antes da Tomografia Computadorizada (TC) porque a RM se baseia principalmente na Transformada de Fourier, enquanto a TC requer a compreensão do Teorema da Projeção de Fourier (Fourier Slice Theorem) de Johann Radon. Esta abordagem visa facilitar a compreensão dos princípios matemáticos subjacentes.

Citações Relevantes:

  • "O presente livro é o resultado de quatro anos de trabalho que começou no inverno de 2014/15 e foi finalmente concluído no verão de 2018."

  • "Em particular, rompemos com o desenvolvimento histórico dos dispositivos de imagem descritos e apresentamos, por exemplo, a ressonância magnética antes da tomografia computadorizada, embora tenham sido desenvolvidos em ordem oposta."


Processamento de Sinal e Imagem (Capítulos 2 e 3)

Os fundamentos para compreender os sistemas de imagem médica residem na teoria de sinais e processamento de imagem.

  • Sinais e Sistemas: Um sinal é uma função que representa informação, onde a variável independente (ex: tempo, espaço) e a variável dependente (ex: intensidade de luz, voltagem elétrica) podem ser multidimensionais. Imagens médicas, como as de TC 3D ou RM 4D (com tempo-resolução), são exemplos de sinais multidimensionais. Sistemas processam esses sinais, e um tipo crucial são os sistemas lineares invariantes no tempo (LSI), caracterizados por linearidade e invariância ao deslocamento.

  • Linearidade: H{af(t) + bg(t)} = aH{f(t)} + bH{g(t)}

  • Invariância ao Deslocamento: Se g1(t) = H{f(t)}, então g1(t - τ) = H{f(t - τ)}

  • Sistemas LSI são completamente descritos por sua resposta ao impulso (ou função de espalhamento de ponto para sistemas de imagem) ou função de transferência.

  • Convolução e Correlação: A convolução é a operação matemática que descreve o processamento de um sinal por um sistema LSI. g(t) = (h * f)(t). A função de Dirac (δ(t)) é o elemento de identidade da convolução. A correlação mede a similaridade entre dois sinais.

  • Transformada de Fourier: Este é um conceito fundamental que permite representar qualquer sinal do domínio do tempo (ou espaço) no domínio da frequência. A Teorema da Convolução é particularmente importante: a convolução de dois sinais no domínio do tempo é equivalente à multiplicação pontual de suas transformadas de Fourier no domínio da frequência (F{f * g} = F · G). Isso permite um processamento eficiente de filtros.

  • Teoria de Sistemas Discretos: Na era digital, os sinais devem ser convertidos do domínio contínuo para o discreto (digitalização).

  • Amostragem: Processo de transformar um sinal de tempo contínuo em um sinal de tempo discreto, geralmente em intervalos regulares (amostragem uniforme).

  • Teorema de Amostragem de Nyquist-Shannon: Um sinal de banda limitada pode ser totalmente reconstruído a partir de amostras se a frequência de amostragem for pelo menos duas vezes a frequência máxima do sinal (frequência de Nyquist). Se esta condição não for atendida, ocorre o aliasing.

  • Quantização: Processo de transformar um sinal de valor contínuo em um sinal de valor discreto (ex: intensidade de imagem em 8 bits). Isso introduz ruído de quantização.

  • Ruído: Componentes de sinal indesejados. Modelos aditivos (f(t) = s(t) + n(t)) são comuns, e o ruído branco é um caso extremo, sendo temporal ou espacialmente não correlacionado.

  • Processamento de Imagem: Imagens são tratadas como funções que mapeiam coordenadas para valores de intensidade.

  • Histogramas: Fornecem informações sobre a distribuição dos valores de intensidade de uma imagem.

  • Melhoria de Imagem: Técnicas como janelamento e nível (comum em TC para ajustar o contraste com base nas Unidades Hounsfield), correção gama (g(f) = A · fγ) e equalização de histograma são usadas para otimizar a visualização.

  • Detecção de Borda: Identifica mudanças fortes de intensidade usando derivadas finitas (ex: diferenças de avanço, retrocesso, central).

  • Filtragem de Imagem: Aplica kernels de filtro (ex: média, Gaussiano, Prewitt, Sobel) para processar imagens (ex: redução de ruído, realce de bordas). Filtros lineares e invariantes ao deslocamento podem ser aplicados por convolução. O filtro de mediana é um exemplo de filtro não linear, útil para remover ruído sal e pimenta.

  • Operadores Morfológicos: Operações baseadas em conjuntos (erosão, dilatação, abertura, fechamento) usadas principalmente em imagens binárias para modificar formas e estruturas. Podem ser aplicados também a imagens em tons de cinza.

  • Segmentação de Imagem: Processo de converter uma imagem em tons de cinza em uma imagem com menos níveis de cinza, particionando a imagem em regiões (ex: primeiro plano/fundo). O limiarização é o método mais básico, com abordagens automáticas como o método de Otsu (que maximiza a variância interclasse no histograma bimodal).


Modalidades de Imagem Médica

O livro descreve várias modalidades de imagem, cada uma com seus princípios físicos e aplicações.

4. Endoscopia

  • Minimamente Invasiva vs. Cirurgia Aberta: A cirurgia minimamente invasiva oferece menor trauma operatório, tempo de recuperação mais curto e cicatrizes menores, mas o cirurgião tem acesso direto limitado e depende mais de técnicas de imagem.

  • Endoscópios: Dispositivos flexíveis ou rígidos com câmeras inseridas no corpo para adquirir imagens.

  • Sistemas de Assistência: Desde suportes de endoscópio simples a sistemas robóticos totalmente automáticos como o sistema da Vinci, que oferece imagens estereoscópicas para uma impressão 3D.

  • Imagens de Profundidade (Range Imaging): Essencial para compensar a perda de percepção de profundidade em procedimentos endoscópicos.

  • Visão Estéreo: Estima a profundidade a partir de duas perspectivas. Exige calibração precisa e informações de textura diversificadas.

  • Luz Estruturada: Similar à visão estéreo, mas projeta um padrão conhecido na cena para criar pontos de recurso artificiais. Independente da textura da cena.

  • Tempo de Voo (TOF): Mede a distância fisicamente através do tempo que a luz modulada leva para refletir de volta ao sensor. Mais recente, menor resolução e mais suscetível a erros (múltiplas reflexões, iluminação não homogênea).

5. Microscopia

  • Formação de Imagem em Lentes Finas: Descreve como as lentes convergem ou divergem a luz para formar imagens reais (d > f) ou virtuais (d < f). A equação da lente fina (1/d + 1/d' = 1/f) e a magnificação (M = h'/h = -d'/d) são fundamentais.

  • Microscópio Composto: Utiliza uma lente objetiva e uma ocular para magnificações elevadas. A abertura numérica (NA = n sin θ) quantifica a capacidade de uma lente de coletar luz.

  • Tipos de Microscopia de Luz:Microscopia de Campo Claro: Baseia-se na absorção de luz pela amostra. Objetos densos aparecem escuros em um fundo brilhante. Frequentemente requer coloração da amostra (ex: Hematoxilina e Eosina) para realçar estruturas celulares.

  • Microscopia de Fluorescência: Utiliza materiais fluorescentes que emitem luz em um comprimento de onda diferente quando excitados. Oferece alto contraste e é usada em biologia celular e ciência dos materiais. Limitações incluem a alteração potencial da amostra por corantes e informações estruturais incompletas. A endomicroscopia a laser confocal (CLE) é uma técnica fluorescente que permite análise estrutural de tecido in vivo.

  • Microscopia de Contraste de Fase: Converte o deslocamento de fase (invisível para detectores de luz) causado por objetos transparentes (objetos de fase) em uma mudança de amplitude visível. "Frits Zernike criou um truque brilhante para converter o deslocamento de fase invisível em uma mudança de amplitude visível usando um filtro óptico."

  • Microscopia de Fase Quantitativa (QPM): Permite obter valores de fase quantitativos, não apenas qualitativos. A equação de transporte de intensidade (TIE) é uma das metodologias para determinar a fase quantitativa, oferecendo imagens de alto contraste em microscópios de campo claro.

  • Limitação da Microscopia de Luz: A resolução é limitada pela difração da luz, resultando no padrão de Airy. A resolução mínima é dada por dAiry = 0.61 λ / NA (Critério de Rayleigh). Aumentar a magnificação além desse limite leva à "magnificação vazia". Imersão em água ou óleo aumenta a NA.

  • Além da Microscopia de Luz: Usar comprimentos de onda mais curtos (UV, raios X, feixes de elétrons) aumenta a resolução, mas introduz novos desafios (ex: lentes especiais para raios X, microscopia eletrônica exige vácuo e amostras finas/mortas).

  • Microscopia de Luz Além do Limite de Difração (Super-resolução): Técnicas recentes (STED, RESOLFT, STORM) contornam o limite de difração da luz visível, ativando e desativando alternadamente moléculas fluorescentes para obter resoluções de ~10 nm.


6. Imagem por Ressonância Magnética (MRI)

  • Princípios: A RM utiliza ondas eletromagnéticas para excitar átomos de água (núcleos de hidrogênio) dentro do corpo. Quando a excitação cessa, os átomos retornam ao seu estado normal, emitindo ondas de rádio.

  • Ressonância Magnética Nuclear (NMR): O spin intrínseco dos núcleos de hidrogênio os faz agir como pequenos ímãs. Na presença de um campo magnético forte (B0), os eixos de spin se alinham parcialmente, criando um vetor de magnetização líquida (M).

  • Precessão: M precessa em torno de B0 a uma frequência específica (frequência de Larmor: fL = γ · ||B0||), que depende da força do campo magnético e das propriedades do núcleo.

  • Excitação: Um campo magnético mais fraco (B1), perpendicular a B0 e girando em sincronia com M, é aplicado (pulso de RF) para desequilibrar M (ex: pulso de 90° o vira para o plano transversal).

  • Relaxamento: Quando B1 é desligado, M retorna ao equilíbrio por dois processos:

  • Recuperação da Magnetização Longitudinal (T1): Ocorre por relaxamento spin-rede, onde os spins liberam energia para o tecido circundante. É caracterizado pelo tempo constante T1.

  • Decaimento da Magnetização Transversal (T2/T2):* Ocorre pela perda de coerência de fase dos spins. T2 é o tempo constante para o decaimento ideal; T2* inclui imperfeições do campo magnético (T2* < T2).

  • Contrastes da Imagem: O contraste nas imagens de RM é determinado pela escolha dos parâmetros da sequência de pulsos, especialmente o tempo de eco (TE) e o tempo de repetição (TR).

  • Ponderação T1: Curto TE, curto TR. Realça variações em T1.

  • Ponderação T2: Longo TE, longo TR. Realça variações em T2.

  • Ponderação Densidade Protônica (PD): Longo TR, curto TE. Realça a densidade de prótons.

  • Princípios da Imagem por Ressonância Magnética:Bobinas de Gradiente: Criam variações lineares no campo magnético B0 para permitir a localização espacial.

  • Seleção de Fatias: A variação do campo magnético faz com que a frequência de Larmor seja dependente da posição, permitindo excitar apenas uma fatia específica do corpo.

  • Codificação Espacial: Utiliza a informação de fase dos spins no plano transversal. A aplicação de diferentes gradientes cria padrões de fase, e a medição da magnetização líquida permite a reconstrução da distribuição de densidade de hidrogênio via transformada de Fourier (espaço k).

  • Espaço-k: Espaço de Fourier no contexto da RM. O objetivo de um exame de RM é preencher o espaço-k com dados para reconstrução da imagem.

  • Sequências de Pulso:Eco de Spin (SE): Usa um pulso de 180° para refocalizar os spins e recuperar o sinal perdido devido a imperfeições do campo (T2 ponderação).

  • Eco de Gradiente (GRE): Utiliza ângulos de inversão parciais (abaixo de 90°) para aquisições mais rápidas. Não usa pulso de 180°, sendo mais suscetível a imperfeições de campo (T2* ponderação).

  • Tópicos Avançados:Imagens Paralelas: Usa múltiplas bobinas receptoras locais para reduzir o tempo de aquisição, permitindo o subamostragem no espaço-k (ex: SENSE).

  • Excitação Espectralmente Seletiva: Técnicas para aumentar o contraste entre diferentes tecidos (ex: preparação T2 para realçar sangue arterial vs. miocárdio).

  • Angiografia Sem Contraste (TOF): Utiliza o movimento de spins no sangue para visualizar vasos sem agente de contraste.

  • Efeito BOLD: Base para a RM funcional (fMRI), que visualiza a atividade neuronal no cérebro detectando alterações na concentração de hemoglobina oxigenada/desoxigenada.


7. Imagem por Raios X

  • Definição: Raios X são ondas eletromagnéticas de alta energia (0.01 nm a 10 nm de comprimento de onda), capazes de penetrar na matéria. A perda de energia por absorção, que difere entre os materiais, cria contraste na imagem.

  • Geração de Raios X: Produzidos em tubos de raios X por elétrons acelerados (do cátodo) que atingem um ânodo de metal. O impacto gera raios X através de dois processos:

  • Radiação Característica: Elétrons ejetados de camadas internas do átomo do ânodo, preenchidos por elétrons de camadas externas, emitem fótons de raios X com energias discretas (dependente do material).

  • Bremsstrahlung (Radiação de Freio): Elétrons desacelerados e defletidos pelo campo elétrico do núcleo do átomo do ânodo, emitindo um espectro contínuo de raios X.

  • Interação Raios X-Matéria:Atenuação: Redução na intensidade da radiação. Segue a Lei de Beer-Lambert (I = I0 · e^(-µx)), onde µ é o coeficiente de atenuação.

  • Efeito Fotoelétrico: Fóton de raios X transfere toda sua energia a um elétron de camada interna, ejetando-o. Predominante em energias mais baixas.

  • Espalhamento Compton: Fóton de raios X atinge um elétron, ejetando-o e sendo defletido com perda parcial de energia. Predominante em energias mais altas em tecidos.

  • Espalhamento Rayleigh: Fóton interage com elétrons, sendo defletido sem perda de energia. Coerente e predominante em energias baixas.

  • Aquisição de Imagem por Raios X:Intensificadores de Imagem: Tubos de vácuo que convertem raios X em luz visível, depois em elétrons, que são acelerados e focados em um fósforo de saída para formar a imagem. Aumenta o brilho da imagem e reduz a dose. Problemas: vinhetagem e artefatos de distorção.

  • Detectores de Painel Plano (FPDs): Estado da arte, oferecem leitura digital direta e maior resolução espacial.

  • Conversão Indireta: Raios X -> luz (CsI) -> carga elétrica (fotodiodos).

  • Conversão Direta: Raios X -> carga elétrica (fotocondutores).

  • Fontes de Ruído: O número de fótons de raios X gerados e detectados segue uma distribuição de Poisson. O Relação Sinal-Ruído (SNR) é proporcional à raiz quadrada do número de fótons (SNR(N) ∝ √N0).

  • Aplicações de Raios X:Radiografia: Cria imagens de projeção 2D, comum para fraturas e alterações no sistema esquelético.

  • Fluoroscopia: Sequências de imagens radiográficas em tempo real, essenciais em intervenções minimamente invasivas para guiar ferramentas.

  • Angiografia por Subtração Digital (DSA): Visualiza vasos sanguíneos injetando agente de contraste e subtraindo uma imagem "máscara" sem contraste.


8. Tomografia Computadorizada (CT)

  • Motivação: Supera a limitação das imagens 2D de raios X, permitindo a reconstrução de volumes 3D e vistas de corte transversal.

  • Princípios Matemáticos:Transformada de Radon: Descreve como as projeções (integrais de linha) de uma função 2D podem ser usadas para reconstruí-la. p(θ, s) = ∫∫ f(x, y)δ(x cos θ + y sin θ - s) dxdy. O conjunto completo de integrais de linha forma um sinograma.

  • Teorema da Projeção de Fourier: Relaciona a transformada de Fourier 1D de uma projeção (P(ξ, θ)) a uma linha na transformada de Fourier 2D da função original (F(u, v)). Isso é fundamental para a reconstrução.

  • Reconstrução de Imagem: A função reconstruída na TC são os coeficientes de atenuação lineares, geralmente transformados para a escala Hounsfield (HU), onde a água é 0 HU.

  • Reconstrução Analítica (Retroprojeção Filtrada - FBP): Inverte o processo de projeção diretamente. Envolve a convolução das projeções com um filtro (filtro rampa, ex: Ram-Lak, Shepp-Logan) e sua posterior retroprojeção no espaço da imagem.

  • Reconstrução Algébrica (ART): Formula o problema como um sistema de equações lineares (Ax = p) e busca uma solução iterativa. Cada medição de raio corresponde a uma equação linear. Embora computacionalmente intensivo, é uma alternativa para a FBP, especialmente em sistemas com problemas mal condicionados.

  • Geometrias de Aquisição:Feixe Paralelo e Feixe em Leque: As primeiras gerações de TC usavam feixes paralelos, evoluindo para feixes em leque para maior eficiência.

  • TC Multicorte e Feixe Cônico: Múltiplas linhas de detectores permitem aquisição simultânea de várias fatias. A TC de feixe cônico usa uma matriz de detectores maior para capturar um volume 3D completo em uma única rotação.

  • TC Helicoidal (Espiral): O tubo de raios X e o detector giram continuamente enquanto a mesa do paciente se move, traçando uma hélice e permitindo a aquisição de grandes regiões do corpo.

  • Considerações Práticas:Resolução Espacial: Influenciada pelo tamanho do foco, geometria de varredura, espaçamento do elemento detector e movimento durante a aquisição. Medida pelo Função de Dispersão de Ponto (PSF) e Função de Transferência de Modulação (MTF).

  • Ruído: As medições do detector seguem uma distribuição de Poisson. O ruído aumenta com a espessura do objeto e pode apresentar padrões em objetos não circulares.

  • Artefatos de Imagem:Endurecimento de Feixe: A absorção preferencial de fótons de baixa energia faz com que o feixe de raios X se torne "mais duro" (com maior energia média) ao passar pelo objeto, causando artefatos de faixas e cupping.

  • Artefatos de Espalhamento: Fótons Compton espalhados são detectados em locais errados, degradando a qualidade da imagem, especialmente entre estruturas de alta densidade. Grelhas anti-espalhamento são usadas para mitigar isso.

  • Efeito de Volume Parcial: Ocorre quando um único pixel contém duas regiões com coeficientes de atenuação diferentes, causando artefatos em imagens de baixa resolução ou fatias grossas.

  • Artefatos Metálicos: Causados por endurecimento de feixe, espalhamento e "fome de fótons" (poucos fótons atravessam o metal), resultando em faixas escuras.

  • Artefatos de Movimento: Movimento do paciente durante a aquisição leva a conjuntos inconsistentes de projeções, resultando em borramento ou artefatos de faixas.

  • Artefatos de Truncamento: Ocorre quando o objeto é maior que a área do detector, resultando em dados lateralmente truncados e degradação da imagem.

  • Atenuação Policromática e TC Espectral:Monocromático vs. Policromático: Scanners de TC clínicos usam fontes de raios X policromáticas (com diferentes energias), levando a atenuação não linear e dependência de HU do espectro.

  • TC Simples, Dual e Espectral:TC de Energia Simples: Assume radiação monoenergética, perdendo informações espectrais.

  • TC de Energia Dual (Dual-kVp): Adquire dois conjuntos de imagens em diferentes ponderações de energia (ex: 80 kVp e 140 kVp). Sistemas de fonte dupla permitem aquisição simultânea.

  • TC Espectral: Medições múltiplas com diferentes características espectrais para obter informações quantitativas sobre a composição do tecido. Detectores de camada dupla e detectores de contagem são tecnologias em pesquisa.

  • Decomposição de Materiais Básicos: Expressa o coeficiente de atenuação espectral como uma combinação linear de funções de base dependentes da energia (ex: água e osso). Métodos baseados em projeção ou em imagem são usados para recuperar os coeficientes.


9. Contraste de Fase por Raios X (Modalidade de Imagem Futura)

  • Introdução: Ao contrário da imagem convencional de raios X, que mede a atenuação, a imagem de contraste de fase mede a refração dos raios X.

  • Motivações: Visualizar materiais com propriedades de atenuação ligeiramente diferentes e potencialmente oferecer contraste aprimorado em relação à atenuação.

  • O índice de refração para raios X é um número complexo (n = 1 - δ + iβ), onde δ modela o deslocamento de fase e β modela a atenuação. Para energias de raios X, δ é geralmente 1000 vezes maior que β.

  • Interferômetro de Talbot-Lau (TLI): Um dos setups mais promissores para aplicações médicas. Consiste em uma fonte de raios X convencional e três grades retangulares (G0, G1, G2).

  • G1 (Grade de Fase): O núcleo do interferômetro, onde a fase da onda é deslocada.

  • G2 (Grade Analisadora): Uma grade de absorção que amostra o padrão de interferência, permitindo sua resolução. O phase stepping (deslocamento de G2) é usado para amostrar o padrão.

  • G0 (Grade da Fonte): Permite o uso de fontes de raios X convencionais (com foco grande) ao alinhar padrões de interferência de múltiplos slits, superando a necessidade de fontes de microfoco coerentes.

  • Sensibilidade: s = dist(G1,G2) / (2πp2^2).

  • Reconstrução de Sinal: A partir da curva de phase stepping (intensidade do pixel em diferentes posições de G2), três quantidades podem ser calculadas: atenuação (o offset), fase diferencial (o offset de fase) e campo escuro (redução na visibilidade do interferômetro devido a microespalhamento).

  • Aplicações Potenciais:Mamografia: Sensível a estruturas de tecidos moles e microcalcificações (sinal de campo escuro).

  • Imagens Pulmonares: Pode detectar anormalidades na microestrutura dos alvéolos (sinal de campo escuro).

  • Imagens Ósseas: A direcionalidade do sinal de campo escuro pode ser usada para detectar osteoporose; o sinal de fase pode visualizar cartilagem e tendões.

  • Micro-TC: Melhora a qualidade da imagem em resoluções de micrômetros.

  • Aplicações Industriais: Testes não destrutivos (detecção de defeitos em fibras de carbono, corpos estranhos em alimentos).

  • Desafios de Pesquisa: Fabricação de grades, configuração mecânica, dose para o paciente, design ótimo do sistema, algoritmos de processamento de imagem e reconstrução tomográfica (especialmente para o sinal direcional de campo escuro).


10. Tomografia por Emissão

  • Introdução: Imagem funcional que observa processos biológicos usando radioisótopos ligados a traçadores. A fonte de radiação está dentro do paciente, em contraste com a TC de raios X.

  • Princípio do Traçador: Baseado na descoberta de George de Hevesy (1935) de que radioisótopos podem ser usados para investigar a bioquímica do corpo.

  • Decaimento Radioativo: Dois modos relevantes:

  • Decaimento γ: Emissão direta de raios gama (usado em SPECT).

  • Decaimento β+: Emissão de um pósitron que aniquila com um elétron, produzindo um par de fótons de 511 keV em direções opostas (usado em PET).

  • Física da Tomografia por Emissão:Emissão de Fótons: A quantidade de radioatividade decai exponencialmente (dada pela meia-vida do isótopo). A emissão de fótons segue uma distribuição de Poisson.

  • Ruído: Os dados detectados são inerentemente ruidosos devido à natureza estatística do processo de emissão, especialmente com baixo número de contagens (dose limitada para o paciente). O SNR é proporcional à raiz quadrada do número médio de contagens (SNR = √d̄).

  • Interações de Fótons:Atenuação: A absorção de fótons pelo tecido do paciente é um obstáculo que leva a erros se não for corrigida.

  • Espalhamento Compton: Fótons defletidos podem ser contados em locais errados, degradando a resolução, aumentando o ruído e reduzindo o contraste.

  • Sistemas de Aquisição:SPECT (Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único):Câmera Gama: Consiste em um colimador (restrições angulares, feito de chumbo), um cintilador (converte fótons de raios gama em luz visível) e uma matriz de tubos fotomultiplicadores (PMTs).

  • PSF do Colimador: A resolução é dependente da profundidade e das dimensões do colimador.

  • Eficiência do Colimador: Baixa (ex: 10^-4), comprometendo sensibilidade e resolução.

  • Anger Logic: Usado para determinar a localização 2D da detecção de fótons nos PMTs.

  • PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons):Detecção de Coincidência: Dois fótons de 511 keV são detectados simultaneamente por blocos de detectores em anel. A linha conectando os dois pontos de detecção é a linha de resposta (LOR).

  • Configurações de Detecção 2D vs. 3D: Os sistemas mais recentes usam configuração 3D para maior sensibilidade, mas com mais eventos de espalhamento e coincidências aleatórias.

  • Tempo de Voo (TOF) PET: Usa pequenas diferenças de tempo na detecção de coincidência para reduzir a incerteza da localização da emissão.

  • Vantagens da PET sobre a SPECT: Maior sensibilidade (sem colimador), melhor consistência tomográfica, problema de reconstrução mais bem definido. Desvantagens: Meia-vida curta dos isótopos (ex: 18F), materiais de cintilador caros.

  • Reconstrução:Retroprojeção Filtrada (FBP): Rápida e simples, mas não considera estatísticas de Poisson ou fatores físicos (atenuação, espalhamento, PSF), levando a imagens ruidosas e artefatos em dados de baixa contagem. Não mais usada clinicamente.

  • Reconstrução Iterativa (MLEM): Baseia-se na relação estatística entre a distribuição de atividade e as contagens observadas. O algoritmo de Maximização da Expectativa (EM) maximiza a função de verossimilhança para estimar a distribuição de atividade. Permite modelar a física do sistema (atenuação, espalhamento, PSF) para melhorar a qualidade da imagem e possibilitar reconstruções quantitativas (unidades absolutas como kBq/ml).

  • Considerações Práticas: A escolha de parâmetros de reconstrução é crucial. Muitas iterações podem levar a superajuste do ruído e degradação da imagem ("trade-off entre viés e variância"). Fatores dependentes da fonte (atenuação, espalhamento) e PSFs dependentes da posição levam a propriedades de imagem que variam entre pacientes.

  • Aplicações Clínicas:Diagnóstico:Neurologia: Traçadores de perfusão para fluxo sanguíneo cerebral (SPECT/PET), imagens de placas amiloides (PET) para Alzheimer, imagens de receptores de dopamina (SPECT).

  • Oncologia: FDG-PET para detectar áreas de alto metabolismo de glicose (tumores), imagens esqueléticas (SPECT) para lesões secundárias.

  • Ortopedia: Imagens ósseas (SPECT) para localizar a fonte de dor em próteses, fraturas, doenças degenerativas.

  • Cardiologia: Traçadores de perfusão miocárdica (SPECT/PET) para avaliar a viabilidade do músculo cardíaco.

  • Monitoramento da Doença: Imagem quantitativa permite monitorar a progressão da doença ao longo do tempo (ex: SUV - Standardized Uptake Value para tumores).

  • Terapia: Papel integral na terapia com radioisótopos, visando tecido maligno com radiação. Dosimetria é o processo de estimar a dose em órgãos sensíveis.

  • Imagens Híbridas:Necessidade Clínica: Combinar informações funcionais (SPECT/PET) com informações estruturais (CT/MR) para melhor localização de regiões patológicas.

  • Surgimento e Aceitação: Os primeiros scanners híbridos PET/CT (2000) e SPECT/CT (2006) integraram detectores no mesmo gantry, reduzindo erros de registro e fornecendo informações estruturais e funcionais.

  • Benefícios Adicionais: Melhorias no processo de reconstrução (correção de atenuação, modelos mais precisos). A integração de RM (ex: PET/MR) oferece contraste de tecidos moles superior, embora com desafios como a derivação de mapas de atenuação da RM.

  • Estimativa a Posteriori Máxima (MAP): Algoritmos que incorporam conhecimento prévio (ex: de imagens de TC/MR) na função objetivo da reconstrução iterativa para refinar a imagem. O algoritmo xSPECT Bone (Siemens) é um exemplo de método que utiliza dados de TC para refinar bordas em reconstruções de SPECT.

  • Riscos: Prioris mal projetadas podem levar a resultados enganosos (ex: falsos negativos se o prior assumir correlação entre densidade óssea e captação de traçador em casos de infarto ósseo).


11. Ultrassom

  • Introdução: Utiliza ondas acústicas de alta frequência (> 20 kHz) para imagem médica. É uma modalidade de primeira linha devido ao seu baixo custo e falta de radiação ionizante.

  • Física das Ondas Sonoras:Características: Frequência (ξ), velocidade (v), comprimento de onda (λ), intensidade (J).

  • Reflexão: Em fronteiras entre dois meios, as ondas sonoras são parcialmente refletidas e transmitidas. O coeficiente de reflexão (R) depende da impedância acústica (Z) de cada meio. Reflexão total ocorre em fronteiras ar-tecido mole (pulmões não podem ser examinados).

  • Espalhamento: Reflexão difusa em pequenas porções em várias direções, causada por heterogeneidades ou superfícies rugosas.

  • Difração: Alteração na direção da onda ao passar por barreiras ou aberturas.

  • Atenuação: Redução na intensidade da onda ao penetrar um meio, devido à absorção e espalhamento. A atenuação aumenta com a frequência, o que significa que frequências mais altas fornecem maior resolução, mas menor profundidade de penetração.

  • Aquisição de Imagem para Diagnóstico:Transdutores: Atuam como geradores e detectores de ondas ultrassônicas, convertendo energia mecânica em elétrica e vice-versa (efeito piezoelétrico). Gel é usado para eliminar o ar entre o transdutor e a pele.

  • Resolução Espacial: Distinção entre resolução axial (ao longo da direção da onda) e lateral (perpendicular à direção da onda). A resolução axial é superior à lateral e ambas são diretamente relacionadas à frequência do ultrassom.

  • Modos de Imagem:Modo A (Amplitude): Exibe a amplitude do ultrassom refletido em função do tempo (informação unidimensional e localizada).

  • Modo B (Brilho): O modo mais comum. Combina múltiplas varreduras de Modo A em uma imagem 2D, onde a intensidade do pixel é definida pela amplitude do eco. Pode ser estendido para imagens 3D.

  • Modo M (Movimento): Emite pulsos ultrassônicos em sucessão rápida para medir o movimento do órgão ao longo do tempo (ex: cardiologia).

  • Doppler: Mede e visualiza o fluxo sanguíneo (velocidades) explorando o efeito Doppler (mudança de frequência devido ao movimento relativo entre fonte e observador). Pode ser de onda contínua (CW) ou pulsada (PW).

  • Aspectos de Segurança: Considerado uma das técnicas de imagem menos prejudiciais (não invasiva, sem radiação ionizante). Riscos mínimos de aquecimento do tecido ou cavitação em níveis diagnósticos. Uso terapêutico em litotripsia e ablação de tecidos.


12. Tomografia de Coerência Óptica (OCT)

  • Introdução: Modalidade de imagem 3D baseada em interferometria. Usa luz (regime infravermelho) em vez de ondas sonoras, oferecendo resolução em micrômetros em tecidos de dispersão. Não invasiva e livre de radiação ionizante. Pioneira em oftalmologia.

  • Princípio de Funcionamento:Interferômetro de Michelson: Divide a luz de uma fonte em dois caminhos (braço de referência e braço de amostra) e os reúne para criar interferência.

  • Coerência e Comprimento de Coerência: A interferência só ocorre se a diferença nos comprimentos dos caminhos for menor que o comprimento de coerência da fonte de luz. Fontes de baixa coerência são usadas para determinar a distância de refletores.

  • OCT no Domínio do Tempo (TD-OCT): O espelho no braço de referência se move para corresponder ao caminho da luz refletida da amostra, gerando picos de intensidade para cada profundidade (A-scan). Múltiplos A-scans formam um B-scan (imagem 2D) e uma varredura raster de B-scans forma um volume 3D. O movimento do espelho limita a velocidade.

  • OCT no Domínio de Fourier (FD-OCT): Sistemas modernos adquirem o espectro do A-scan simultaneamente, eliminando a necessidade de um espelho móvel, o que aumenta drasticamente as velocidades de aquisição.

  • OCT no Domínio Espectral (SD-OCT): Usa um espectrômetro.

  • OCT de Fonte Varredora (SS-OCT): A fonte de luz varre o espectro, e um detector amostra o espectro ao longo do tempo. Geralmente mais rápido.

  • Angiografia OCT: Explora o ruído de speckle induzido pelas células sanguíneas para visualizar os vasos sem agente de contraste. Variações entre varreduras rápidas da mesma área são usadas para criar um mapa de variância (ex: variância de speckle, decorrelação inter-frame). Permite a reconstrução em camadas dos vasos para cada camada da retina.

  • Aplicações:Oftalmologia: Principal aplicação, para imagens 3D da retina e do olho anterior, e para angiografia sem contraste. Padrão de tratamento para doenças oculares.

  • Imagens Cardiovasculares: Fibras ópticas em cateteres permitem imagens intravasculares de paredes de vasos (ex: placas calcificadas). Oferece maior resolução que o ultrassom intravascular.

  • Imagens Gastrointestinais: Potencial para detecção precoce de câncer (esôfago, cólon).

  • Dermatologia: Investigada para detecção de câncer de pele (aumento do fluxo sanguíneo em células cancerosas).


Este resumo fornece um panorama dos sistemas de imagem médica, destacando a complexidade e a interdisciplinaridade do campo, desde os princípios físicos fundamentais até as aplicações clínicas avançadas e os desafios de pesquisa.


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