O Que a Ciência Atual Diz Sobre os Escudos de Proteção Radiológica em Pacientes?
- Elo e-Health
- 15 de ago.
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Por décadas, tem sido uma prática comum para profissionais de radiologia colocar material de proteção radiológica diretamente nos pacientes durante procedimentos de radiodiagnóstico, muitas vezes com o objetivo de reduzir a dose em órgãos críticos, como as gônadas. Essa prática criou uma expectativa entre pacientes e profissionais de que continuaria. No entanto, estudos recentes levantaram preocupações sobre a eficácia e efetividade desses "escudos de contato". Isso levou a uma inconsistência na aplicação e, por vezes, a atritos entre pacientes que exigem o uso do escudo e profissionais que o julgam desnecessário ou até potencialmente prejudicial.
Por Que a Mudança? A Nova Perspectiva Científica
Um grupo de trabalho composto por representantes de várias entidades profissionais de radiologia do Reino Unido foi estabelecido para analisar a base de evidências para o uso de escudos de contato em pacientes. Suas descobertas desafiam a perspectiva histórica de que o escudo de contato apenas proporciona benefício ao paciente. Em vez disso, as evidências sugerem que o escudo de contato pode:
• Interferir adversamente na imagem, levando à necessidade de repetir o exame.
• Aumentar a exposição à radiação do paciente se for mal posicionado ou se mover durante o exame.
• Obscurecer anatomias ou patologias importantes, o que pode exigir exposições adicionais para obter o diagnóstico necessário.
• Interferir com os sistemas de Controle Automático de Exposição (AEC) do equipamento, fazendo com que ele aumente os fatores de exposição e, consequentemente, a dose no paciente.
Em suma, as fontes indicam que o escudo de contato oferece benefício mínimo ou nulo e que os profissionais devem se concentrar em outras áreas de proteção radiológica que são mais eficazes na otimização da exposição do paciente à radiação.
O Que Realmente Importa para a Segurança Radiológica?
O princípio fundamental da segurança radiológica é manter as doses do paciente "tão baixas quanto razoavelmente praticável" (ALARP). Isso não significa minimizar a dose de radiação a todo custo, mas sim equilibrar os prejuízos e os benefícios. Aplicar proteção que reduza a dose, mas aumente o risco de obscurecer informações diagnósticas importantes, é contrário à boa prática médica e à proteção radiológica adequada.
Antes de considerar qualquer escudo de contato no paciente, outras técnicas de redução de dose devem ser aplicadas. As mais eficazes incluem:
• Colimação precisa: Limitar o feixe de raios-X primário à área de interesse é o que mais contribui para a otimização da dose e pode reduzir ou impedir a inclusão de órgãos sensíveis no feixe primário.
• Seleção de fatores de exposição e protocolos otimizados: Ajustar os parâmetros técnicos pode levar a economias de dose significativas.
O feixe primário proporciona taxas de dose significativamente maiores do que todas as fontes de radiação secundária. Portanto, as técnicas de otimização que limitam o tamanho e a posição do feixe primário terão um impacto muito maior na dose do paciente do que os esforços para reduzir a exposição de fontes de radiação secundária.
Desvendando Mitos: Sensibilidade dos Órgãos e Novas Perspectivas
Nosso entendimento da radiosensibilidade de vários tecidos e órgãos evoluiu. Historicamente, havia um interesse considerável em medir as doses nas gônadas e implementar o seu escudo, em parte devido a preocupações com efeitos hereditários (genéticos). No entanto, estudos recentes em populações humanas não encontraram evidências diretas de um excesso de doenças hereditárias associadas à radiação. Isso levou a uma redução significativa no fator de ponderação tecidual para as gônadas.
Atualmente, o carcinogênese (indução de câncer) é considerado o efeito estocástico mais importante em níveis de dose de diagnóstico. Órgãos como a medula óssea, mama, cólon, pulmão e estômago agora contribuem significativamente mais para o risco total, com base em seus fatores de ponderação tecidual atualizados. Por exemplo, a mama feminina é mais radiossensível ao nascer, com a sensibilidade diminuindo com a idade. Minimizar a dose na lente ocular também continua sendo uma consideração importante devido ao potencial de desenvolvimento de catarata.
Aplicações em Diferentes Modalidades: O Consenso Atual
A conclusão geral para diversas aplicações de radiologia diagnóstica é que o escudo de contato no paciente não é geralmente recomendado. Isso se aplica a:
• Radiografia Geral: Não é recomendado devido ao potencial de obscurecer a anatomia, interferir com o AEC e oferecer benefício mínimo. A posição PA (póstero-anterior) para exames de coluna e tórax é preferível ao uso de escudos.
• Fluoroscopia Diagnóstica e Intervencionista: Não é recomendado, pois os sistemas modernos de controle automático de taxa de dose (ADRC) podem ser interferidos, levando a um aumento da exposição. A radiação espalhada internamente no paciente é a principal fonte de dose para órgãos fora do feixe primário, e o escudo externo não é eficaz contra ela.
• Tomografia Computadorizada (TC): Fortemente não recomendado. O escudo dentro do feixe pode causar artefatos significativos na imagem (estrias, endurecimento do feixe) e afetar imprevisivelmente o desempenho do AEC, resultando frequentemente em doses mais altas. O escudo fora do feixe proporciona uma redução mínima da dose em comparação com a radiação espalhada internamente e corre o risco de interferência acidental. A otimização através do ajuste de protocolo e tecnologias mais recentes, como a modulação de corrente do tubo baseada em órgãos, são muito mais eficazes.
• Mamografia: Não recomendado. A dose em outros órgãos já é extremamente baixa, e o escudo pode interferir na imagem, causar artefatos e dificultar o posicionamento adequado do paciente, potencialmente exigindo repetições.
• Radiografia Odontológica: Geralmente não recomendado. Embora algumas diretrizes ou associações mais antigas possam recomendar colares de tireoide, o foco deve estar na boa técnica, como colimação retangular e fatores de exposição apropriados, que oferecem reduções de dose mais significativas. O escudo pode obscurecer a anatomia ou, na TC de feixe cônico (CBCT), causar artefatos ou interferir com o AEC.
A Importância da Comunicação e da Mudança Cultural
A recomendação de cessar a prática generalizada do uso de escudos de contato no paciente exige uma grande mudança cultural entre profissionais de saúde, educadores, reguladores e o público. Os operadores (como tecnólogos e radiologistas) têm a responsabilidade de serem adequadamente treinados e confiantes para explicar a lógica de não usar o escudo.
• A comunicação é fundamental: Os pacientes devem receber informações adequadas sobre os benefícios e riscos do exame, incluindo a decisão de usar ou omitir o escudo. Isso promove a confiança.
• Escolha do paciente e segurança: Embora os indivíduos tenham o direito de solicitar ou recusar o escudo, os operadores devem garantir que suas ações resultem em um benefício líquido geral para o paciente e previnam danos. Se um paciente insistir em usar o escudo contra a recomendação, o operador deve documentar a decisão fundamentada.
• Treinamento e procedimentos: Os empregadores devem fornecer procedimentos escritos, treinamento e desenvolvimento profissional contínuo (CPD) para garantir que os operadores sejam competentes e sigam as melhores práticas baseadas em evidências.
Conclusão
Ao focar na justificativa, otimização e boa técnica radiográfica, os profissionais de saúde podem alcançar o objetivo principal das exposições médicas: fornecer uma imagem de qualidade diagnóstica suficiente, mantendo as doses tão baixas quanto razoavelmente praticável. A mudança da prática rotineira de usar escudos de contato no paciente é uma evolução impulsionada pela evidência científica, visando o cuidado mais seguro e eficaz para cada paciente.
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